16.12.07

Pisca pisca

Sempre que cai a tarde de domingo, cai também uma nostalgia boa dentro de mim e dentro dessa casa. É sempre aos domingos que meu pai conta casos antigos da adolescência da infância. É sempre aos domingos que minha mãe comenta de alguma peça da casa que pertencia aos meus avós. E o incrível é como eu sinto a gostosa sensação de correr pra janela e sentir a brisa no rosto e admirar outros apartamentos imaginando a história de vida de outras pessoas.

Geralmente essa nostalgia aumenta mais na época do natal. Vai ver porque perdi meus avós muito cedo para saber de fato o que é ter eles por perto nos domingos e poder ouvir as histórias mais frescas, contadas pelos próprios personagens. Vai ver que é pelo fato das luzinhas mágicas (que insistem em piscar desde novembro) tomarem conta das varandas, ruas e casas como se representassem pequenas fadas de boas lembranças.

É, assumo: adoro esta época desde criança. Não pelos presentes nem pela ceia mas pela solidariedade plena que toma conta das pessoas, pela alegria estampada - apesar do trânsito - às 6 da tarde de uma sexta-feira. Pelo reencontro com amigos e pelos cartões de natal inesperados. Eu gosto. E para mim, natal devia cair sempre no domingo. Pra ficar sempre como uma lembrança boa dentro de nós.

Feliz natal, bom ano novo e boas comemorações vitais para quem passa por aqui. Eu passarei pela primeira vez o natal longe de vários queridos e junto de outros queridos também. E fica sim uma pontada nostálgica de bons momentos de natais passados.

Mas esse suspiro triste não vai me tomar os 25 dias. Prometo!

13.12.07

Lágrimas

Para entrar foram 3 dias. Um teste, duas entrevistas. A conversa mole com a primeira chefe. Sem terninho, sem maquiagem, soltando o que restava do meu inglês britânico. Conquistei. Não só ela mas uma equipe de 6 pessoas. Lá se foram 8 meses dentro do maior cliente. O maior e mais odiado pela empresa toda. Dor de cotovelo, inveja, o maior fee, eu sei lá porquê. Mas sentiam raiva de nós (e muitos, ainda sentem). Dando os ombros, no final de 2005 nós voltamos para o escritório central. Fortes, ralando, suando, rindo, como todos. E aos poucos, a equipe foi se quebrando.

Passaram-se menos de 6 meses e a equipe mudou quase completamente. A cada mudança, uma lágrima contida, uma conversa franca, bora treinar quem entrava, bora seguir em frente. Respirava fundo, me acalmava, engolia o suspiro doído, poxa como foi difícil. Mas os dias seguiam.

Depois veio o começo de 2007, também a mesma correria, horas se transformando em minutos, minutos em raiva, desespero, e mais um que se vai. Mais uma que sai. Outro que entra. E eu ficando sozinha. Tentando não misutrar o profissional com o pessoal mas sem ninguém pra me explicar como se fazia isso. Não dava. Mas deu.

Depois, a primeira reunião da nova equipe. Estruturada, firme, concentrada. Passado uns 02 meses mais duas saem. Fico refletindo qual é o problema da conta. Em uma conversa séria com o cliente amigo ele desabafa: se você sair também estou perdido. Por favor, eu preciso de você.

Seguro o suspiro de novo. Engulo as lágrimas e surgem novas propostas. Desta vez, para mim. Chega a minha hora de jogar tudo à limpo e partir. É hora de falar a verdade. Mais 04 meses se passam. Tudo roda bem, as coisas finalmente acontecem sem problemas. Tudo vai se acalmando. A maré baixa e chego na beirada para dizer adeus. E ... não consigo.

Sim, pra variar não sei separar o pessoal do profissional. Fiquei pensando que na verdade queria era me despedir mais deles do que da conta em si. No caminho para casa, o trânsito veio a calhar e me peqguei pensando nisso tudo. Relembrei não só das conversas e risadas mas também das broncas, cobranças, inseguranças, e de todas as aprovações de textos, notas, releases, estratégias. Todo o ensinsamento que valeu a pena.

A chuva então se misturou com as pequenas lágrimas. Passaram-se 3 anos, já era hora de chorar. E não demorou muito. Junto ao choro triste e ao nó na garganta mandei mensagens para todos: Obrigada por tudo. Sentirei saudadades.

Foi o máximo que consegui fazer.

6.12.07

cinza

Apesar do meu esforço, tem dias que não dá. Você percebe a nuvem cinza não apenas no céu mas também em cima de você. Tenta se esconder, acha que ela vai embora com o vento, com suas mãos esticadas e com sua cabeça que está sempre pra cima. Mas tem dias que não dá.

Além da tristeza de ser enganada, traída, mal tratada, o sentimento que mais sobe aqui dentro é a raiva. Me tirar de otária é a última coisa que eu espero de alguém. E tiraram. Hoje descobri tudo e a tarde vai demorar pra passar. Carregada, grossa, grafite, escura, raivosa.

Não. Não consigo sossegar, respirar fundo, nem nada. Minha proteção está desamparada, não tem quem me acolha, não há muita saída. É juntar o pouco de força que tenho e ir lá jogar limpo. Me segurar pra não mandar tomar no cú, me segurar para não chorar. (estou fazendo isso ha algumas horas).

Uma certa hora pensei no destino. Será um sinal? Vai nessa, sua hora aqui já deu, vaza. Acredito no destino. Mas, ultimamente ando acreditando muito mais na minha força, garra e principalmente, na minha inteligência. Hunf.

2.12.07

ele

Ah, esse suspiro mole. Ah, as pernas que não conseguem me sustentar. Ah, esse sorriso largo. Ah, esse peito aberto. Ah, como se eu não soubesse. Como se eu não tivesse a plena certeza de que sentimento é este. Coisa doida. Vendaval. Ar gelado, ar quente. Que sobe, desce, toma meu corpo todo. Acalma, agita. Dá pressa e faz parar o tempo.

E pensar que tantos poetas quiseram entendê-lo. Besteira. O amor não se entende. Se sente. Quer emoção mais pura? Não sei, não há. O amor que tenho por tantas coisas da vida é tão explícito e incrível de sentir que me sinto viciada. Doida. Completamente apaixonada. Agora, por ele, que amor é esse?

Tentemos resolver este enigma com uns trechos do meu companheiro, Pablo Neruda:

Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo
que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva
Em Taltal não amanhece ainda a primavera

Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos
juntos desde a roupa às raízes,
junto de outono, de água, de quadris,
até ser só tu, só eu juntos

É. Incrível como viramos um. E mais incrível é meu coração apertado de saudades. Já? Sim, já.