27.1.10

selva de pedra


Antes de ir embora eu disse: queria ficar aqui uma semana ou mais. Ele me olhou sorrindo e disse: pra quê?! E eu respondi frazindo a testa: para poder enjoar deste lugar. Eu nunca enjoo. Sempre passo dias intensos, sempre lembro do luar, da praia, dos passeios e das pessoas.

E agora, de volta à São Paulo, fico pensando se enjoaria mesmo ou se na verdade estou é tão acostumada com essa cidade cinza e sem vida que penso que jamais conseguiria morar em outro lugar onde não houvesse essa correria desenfreada que temos e essa urgência estúpida para tudo. Esse mal humor matinal que dura o dia todo e esse riso de desespero.

Isso tudo veio à mente quando acordei no Tietê na segunda à noite, peguei o metrô toda sonolenta e voltei para casa. Fiquei pensando nisso porque, em um momento, no meio do caminho, o trem parou e as luzes se apagaram. E daí já teve gente gritando, falando mal do sistema etc. Bastava esperar um pouco que tudo voltaria ao normal. Erros acontecem. Mas aqui, parece que não se pode errar muito.

Outra reflexão se deu ontem à noite, 20h35 quando nenhum ônibus passava na ponte da Sumaré para eu ir pra casa. O ponto lotado, o outro lado da avenida num trânsito infernal e cada vez mais, o caos se formando em todo canto da cidade. Estou quase me arrependendo de ter comprado o apartamento por aqui. A única coisa que vale é saber que ainda é possível ir para o paraíso e voltar. E saber que não precisarei usar o carro pra trabalhar.

19.1.10

memories


Em meio a tanta coisa acontencendo hoje, em meio à correria desenfreada desde ontem, me veio na mente uma cena encantadora. Coisas assim de filme, esses beeem água com açúcar da Sessão da Tarde.

- O que é isto? Brinquedos do seu filho? Kinder-ovo?
- Não. Juntei na praia. O mar trouxe de volta.

Fiquei olhando encantada. Todos as miniaturas dispostas em cima do móvel empoeirado, todas recebendo a luz do abajour, como uma pequena coleção preciosa. E enquanto eu ficava ali observando, sentia os olhos verdes olhando para mim, como se eu fosse uma concha ou algo parecido.

É uma delícia relembrar essas pequenas memórias.

17.1.10

a queda

Ele ia desligar o telefone quando eu disse: ah, bem que poderíamos almoçar juntos, não?! Ok. O encontro seria no vão livre do Masp. Que horas, pai? 12h30? Não, meio dia. Quando eram 11h50 travei o computador, peguei minha bolsa e saí.

Virei a esquerda e fui andando devagar, olhando para o termômetro, pensando no calor que estava fazendo e como estava sol. Ajeitei o cabelo para a esquerda e fiquei torcendo o mísero rabo que se formava nas minhas mãos. Chegando perto do Masp avistei meu pai de longe. Ele falava ao celular sem muitos gestos, com toda descrição que só ele tem. Eu tentava imaginar que horas eram e se estaria atrasada. Normal, coisa de paulistano.

Daí, esperei um carro passar e vi que o outro que subia teria que esperar este da frente entrar na Paulista - o que não seria muito fácil, porque geralmente ninguém dá a vez - então, decidi atravessar entre os dois carros, como todos estavam fazendo. Algo simples, que nem tem muito o que pensar e nem merece isso tudo de detalhe. Na verdade, não merecia até eu tropeçar no nada.

Tropeçei e senti a sensação mais esquisita da vida. Meu corpo foi indo para frente como uma caneta que cai da mão e a gente tenta segurar. Comigo foi o mesmo. Tentei parar. Tentei ficar com o corpo reto. Em vão. Cada vez que eu tentava eu curvava mais para frente e continuava caindo. Plof.

A queda se deu já do outro lado da rua, de cara. Depois, não teve depois. Não me lembro como me virei, não me lembro da dor, nem me lembro das pessoas. Mas sei que eram várias. Umas seis pessoas em volta me ajudando a sentar e me olhando espantadas. Uma moça pedia desculpas por não ter conseguido me segurar a tempo, um homem me perguntava se eu estava correndo e uma outra mulher dava bronca no homem: claro que não, eu vi ela caindo.

Eu não entendia nada. Agradecia e só conseguia repetir as mesmas palavras: nossa, que estranho. No fim, a calça preta estava inteira branca, a blusa roxa também branca e o braço esquerdo, vermelho. O machucado estava tão feio e tão ardido que naquele dia trabalhei até as 23h e só me preocupava em não dobrar muito o cotovelo.

Depois, no dia seguinte é que senti o caroço. Meu antebraço, doía tal qual quando se faz muita musculação ou quando se carrega muito peso. Chegando no hospital (a primeira vez no ano - eu poderia fazer coleção das pulseirinhas do São Camilo), fui surpreendida por não terem tirado minha pressão e por terem me enviado direto para a ortopedia. No consultório, o médico mal olhou meu braço e disse admirado, como se estivesse diante da Capela Sistina: que bela contusão heim?! Engessei.

Foram três noites dormindo com aquela bagaça e dois dias sem lavar a cabeça. Descobri o prazer que uma agulha de tricô pode proporcionar no ápice das coceiras e fiquei frustrada porque não deu pra ninguém escrever no gesso. A tipóia é um saco, sentei no banco azul do metrô, não peguei fila na Vivo e ainda assim fui na baladinha perto de casa onde todo mundo perguntava o que eu tinha feito (desde o cara da recepção até o barman da caipirinha). E agora, já sem o gesso e com o machucado cicatrizando a única coisa que queria entender é a razão do desmaio. Sei o que você deve estar pensando, mas, antes que você também me pergunte, não, eu não estou grávida. Deve ter sido os 32º daquele dia. Ou quem sabe, a abstinência de pães de queijo.

4.1.10

a volta do Rio

Comecei bem o ano. Fui viajar com um grupo de 17 pessoas completamente loucas, que cantavam a mesma música a cada 15 minutos, que se dividiam pra dormir em dois cafofos, que davam o mesmo nome pra entrar na balada, que bebiam cerveja como água, que brincavam de piscinão de Ramos no meio da praia de Ipanema e me chamavam de Picaxu. Há detalhes, claro, mas o melhor foi voltar com a certeza que este ano será incrível. Repleto de energia boa e risadas intermináveis. E melhor ainda: com amigas novas que te mandam um e-mail com a mensagem abaixo. É de chorar.

"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido senão tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes, basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é isso que dá sentido à vida. É o que faz com que ela seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina"