12.5.09

Mi amor

para Ronald

Ontem fui te visitar. Ganhei carona até o metrô, tomei o trem vazio e fui pensando em você. Desci na avenida movimentada, peguei outro ônibus e quando achei que estava perto, ele virou outra rua, eu desci e tive que tomar um outro.

Fazia sol e calor. Pensava como era difícil voltar à realidade da cidade grande, depois de ter ficado uma semana toda fora, nas praias do nordeste. Comparei a tranquilidade daquelas areias calmas com o asfalto preto e pesado. Lembrei do vento refrescante nos meus cabelos e da pequena brisa que se esforça em passar entre os prédios. E daí, lembrei de você novamente.

A chegada no hospital foi rápida, a entrada sem a menor burocracia. Tudo estava branco demais, silencioso demais e calmo demais. Quando te encontrei no quarto soltei um sorriso por ter a chance de te ver, de poder te visitar e ficar ali admirando seu jeito calada, segurando um choro e um sorriso. Lembrei de nós dois conversando em espanhol, você me dizendo que iria guardar dinheiro para meu casamento e o jeito que você dizia sempre que a gente se encontrava: mi vida, mi amor.


Foi pouco tempo. Pensei em tocar em você para ficarmos mais próximos. Mas achei que eu iria acordá-lo. Então observei você dormindo. Respirando profundamente, tremendo de vez em quando, tossindo forte e franzindo a testa. Este foi o momento da dor. Tentei imaginar a dor que você sentia, mas isso é impossível para quem está bem. Então me despedi em pensamento. Saí devagar, falando baixo para continuar deixando tudo calmo para você.

A volta foi difícil. Melodias tristes me acompanharam até entrar na igreja. Rezei por você novamente e voltei a sentir aquele alívio estranho que sinto quando alguém se vai. Entrei em casa, respirei fundo e, novamente, um passarinho pousou na janela. Desta vez não era uma maritaca ou um sabiá. Era um beija-flor preto. Ficou ali por alguns segundos e se foi. E eu sabia, lá dentro de mim, que era você.

3 comentários:

juju disse...

lindo, queridoca, simplesmente lindo! não consegui conter o choro! beijos!

*Livia* disse...

Que lindooooo
Ai, esses dias me deu uma saudade sufocante de algm muito querido, me deu essa sensação...um choro que pára na garganta, que de algum modo estranho faz a gnt sorrir ao invés de soluçar né?

Bjos

Anônimo disse...

Ler este post agora, qnd há menos de quatro dias passei pela mesmíssima experiência fez meus olhos ficarem marejados...