31.8.09

tim tim !


Chamei o elevador. Senti o calor no corpo. Virei o pulso e respirei fundo. 16h57. Faltavam 5 horas para sua festa. Fiquei pensando como você estava. Fiquei pensando se estava tudo certo. A ida ao cabelereiro foi tranquila. Tal qual quando a gente saía de casa para comprar pão. Aquela tarde gostosa e leve. Aquele brisa boa de pré-verão, com folhas secas rodando no ar, com aquela sensação de amor nascendo, amor sendo descoberto, amor sendo validado, ali, sem mais nem menos, refletido pelos raios do sol na calçada.

Depois de muitas Caras, fotos, poses, vestidos, glamour (!!) e páginas amassadas era minha vez de fazer o cabelo, montar algo legal que combinasse com meu vestido legal e com a cor das unhas escolhidas sabiamente. Mas, de repente, o relógio tinha se desdobrado. O babyliss foi a única coisa que consegui fazer e não havia mais tempo para nada. Até que chegando em casa eu te vi.

Você me deu aquele abraço leve, aquele sorriso sincero e disse as mesmas palavras de sempre com toda calma do mundo: Oi Clots, tudo bem? Porra ! Você era o noivo da noite. Era você que devia estar na pressa, agitado, confuso, correndo e ... não. Ali estava você daquele jeito doce e amigo. Sentado, esperando os minutos correrem e sentindo a emoção nos olhos familiares. Respirei fundo mais uma vez, me troquei, me pintei, abrimos o champagne-presente e lá fomos nós.

(eu sei que você merecia mais que um champagne, mas, naquele momento, depois da semana pesada, era apenas o que eu podia te dar, meio de surpresa, ainda que com gosto estranho)

A festa em si, dispensa comentários: Super Nanny, amigos felizes, famílias distantes e unidas, uma pomba tocando o som, pessoas roubando bem-casados, o bolo lindo com uma cena inteira representada, as flores desabrochadas e as cores de vocês todos juntos. Até que você me chamou de canto e me entregou a caixinha. Fui ao banheiro, abri, olhei, fechei e dei um leve suspiro. Lembrei de filmes e de várias cenas de caixinhas de alianças. Mas, principalmente, lembrei do amor.

Os olhos ainda estavam secos, a maquiagem intacta e meus cachos não tinham se tornado ondas grandes e formosas. As coisas pareciam muito irreais para mim e eu não acreditava que tudo estava mesmo acontecendo. Até o momento que você entrou com Dzarm e a Van entrou com I´ll be there. Daí, eu desacreditei. Daí meus pensamentos se voltaram há 9 anos atrás. Daí, me veio a cena dela com uma blusa branca, escova no cabelo vindo em direção ao carro para te encontrar. Veio a imagem do rosto doce e do sorriso alargado. Veio a lembrança do meu conselho dentro do teatro: pega na mão dela, pega na mão dela!

De repente, me veio na mente todas as nossas conversas sobre amor, paixão e as diferentes formas de amar. Enquanto eu olhava vocês se declarando, tentava encontrar dentro de mim esta mesma certeza leve e ao mesmo tempo concreta. Fiquei vendo você tomar fôlego para continuar lendo o texto mais lindo que você já leu. Fiquei vendo o olhar dela para você. Fiquei vendo o amor se redescobrir ali, daquele jeito de vocês, enquanto sentia as lágrimas caírem sem parar. No momento que nos chamaram, cruzei os braços com o Dan, entramos sorrindo e novamente fiquei sem entender nada. O que era aquela música? Eu sorria? Eu chorava? A cada palavra mais lembranças da infância e de tempos passados. Mas andei firme, sorri do jeito que eu pude, te entreguei a caixinha e dei o abraço mais apertado em vocês.

Depois fiquei ali vendo os finalmentes, ainda chorando, ainda sorrindo, ainda admirada. A noite seguiu com toda graça, brilho, músicas, danças, crepes, bubbles, vinhos e mais amigos. Foi, de verdade, o casamento mais lindo que já fui na vida. Até que aconteça o meu. Sabe-se lá como e sabe-se lá quando. Felicidades!

25.8.09

no balanço das horas

dentro do bonde, antigamente, o sol batendo, as senhoras abriam o leque para se refrescar.
à noite, na mesa do bar, amigos da faculdade se juntam e distribuem as cartas do baralho.
quando é verão, a criança na praia olha para dentro do isopor do sorveteiro.
no ponto de ônibus central, onde passam várias linhas de ônibus diferentes para você ir embora.
o preenchimento de um gabarito de respostas, com mais de cinco opções para escolher.
no natal, todas os presentes embaixo da árvore e você não sabe qual abre primeiro.

a vida é assim feita de escolhas, opções, chances, oportunidades.

não sei como isso está acontecendo comigo, mas sei que estou na fase de escolhas, de decisões sérias, de saber, que a vida é muito mais gostosa quando a gente se preocupa apenas, em curtir a vida mesmo. estou no tempo de me aprofundar em assuntos, pessoas, histórias e momentos.

tudo, é claro, em paralelo à vida besta que me leva a acordar todos os dias e repetir o sorriso amarelo, engolir seco e seguir seguindo. mas os ponteiros estão, de fato, se mexendo. e desta vez, não estou com medo. estou dentro do vento.

20.8.09

18 anos atrás


Estava vindo trabalhar hoje quando veio à mente aquela cena, para mim uma das mais engraçadas, do filme "Meu nome não é Johnny" que o Selton Mello comenta com a Cléo Pires, dentro do quarto do motel sobre Carlinhos, da sétima C, que virou um traveco e está agora em Veneza.

Veio porque assim que entrei no ônibus dei de cara com um rapaz moreno de olhos azuis e olhar incomodado. Naquele instante, não me lembrei do rosto, nem do azul, nem do sorriso, nem dos olhares, nem das conversas. Mas daí, durante os cinco minutos para passar a catraca, tentar achar um lugar e me sentar, eu olhei novamente.

O mesmo azul, o mesmo cabelo, o mesmo rosto, a mesma altura, o mesmo olhar sério, a mesma voz calma. Era um amiguinho da 2ª E, da professora Rosana. Era o colega que corria comigo pelas quadras, que eu emprestava fitas de video-game (fitas !!!), que trocava figurinhas, que era meu par na festa junina, que tinha um sorriso diferente, que usava aparalho móvel, que me via dormindo nas aulas, que colava junto comigo.

Deu aquela vontade de falar o nome dele perguntando. Vontade de ver só ele afirmar com um sim, sou eu e vc? Nem ficaria chateada, só queria de verdade ter a troca do castanho com o azul. Sem nenhuma pretensão, sem nenhuma outra vontade. Apenas porque não é todo o dia que se tem lembranças nostálgicas como as que eu tive. Queria dizer que os dias estão precisando de mais cores e ele tinha a minha preferida. Afinal, não é mesmo, todo dia, que se reconhece um amiguinho de 18 anos atrás. Ui!

16.8.09

sadness


Quando a médica me chamou, a febre já havia baixado para os 36º novamente. Ela apenas me deu novos remédios, uma dieta de frutas mais forte e bronca. Porra, tomar bronca de médico é a última coisa que eu precisava. Disse que era infectologista, que comer fora é realmente uma porcaria, que tem que prestar mais atenção e mais um monte de coisas que ela cuspia enquanto eu tremia dentro das roupas geladas, pós-febre.

Respirei fundo, saí da sala e olhei ao redor. Todos ali com aquelas máscaras brancas por conta da gripe suína e eu ali com aquela bronca nos ombros. Quem estava pior? Por que todo aquele drama da garota loira que levantou, pegou a máscara, colocou e depois que saiu do consultório com a receita em mãos, olhou ao redor e tirou a máscara? Se eu estivesse com a máscara a médica teria diminuído as broncas? Quem é ela para falar que como errado? Ficasse no meu lugar um dia. Trabalhasse o tanto que estou trabalhando, sem hora para comer, sem saber o que comer por um dia. Mas não, os médicos sempre levam consigo esse peso de super-herói. Hunf.

A virose só passou no quinto dia. Ainda tive que voltar ao hospital para tomar soro, fazer exame de sangue e ir embora com a receita do antibiótico bomba de 200 reais. Engoli seco, fiquei em casa mais um dia e compreendi todo o stress da médica de máscara: eu realmente precisava dar uma trégua para meu corpo. Precisava dormir melhor e tirar o pé do acelerador.

Voltei com energia. O trabalho me esperava, um curso no Rio me esperava e toda a crise continuava. O único porém, no meio de tudo isso, foi saber que um dos integrantes da equipe havia saído do barco. Não aguentou. Não quis mais. Levantou da cadeira e fechou o computador. Soube que ele respira mais aliviado e está comendo no horário. Soube que as olheiras clarearam e o namoro voltou ao normal. Sabe-se lá quando isso vai acontecer comigo novamente.

11.8.09

weakness


Verde: urgência relativa. Amarelo: urgência absoluta. Vermelho: emergência. Azul: prioridade. Sentada na penúltima fileira da ala de antedimento do hospital, pela segunda vez em menos de dois dias. Lá estava eu lendo as placas que identificavam o pulso das pessoas. Estar com a pulseira amarela não fez eu ser atendida na hora, absolutamente, não. Mas lá estava eu novamente.


Para quem não entendeu nada, quinta passada eu peguei uma virose feia. Meu pai disse que foi violenta, minha mãe falou que foi pesada e emendou com toooodos aqueles argumentos de comer fora de casa, comer qualquer porcaria etc. Na minha imaginação febril, como virose começa com V e isso me lembra verme, logo, imaginei um monstro pesado e violento em cima de um ringue de boxe (com luvas e tudo mais). Hehe. É, foi divertido pensar assim na sexta, quando fiquei no sofá vendo desenho, entre muitas idas e vindas do banheiro, até a febre chegar de vez. Quando ela mediu 39º da primeira vez, não quis me contar. Mediu a segunda vez, ajeitou o cabelo, fechou o termômetro e disse: pega seu tênis, um agasalho e vamos voltar ao hospital.


Voltamos. E ali estava eu, sentada, vendo os pulsos de todas as pessoas, os ponteiros rodando, a febre saindo até pelo meu nariz e pensando: o que faz uma pessoa ser forte? O que faz uma pessoa ser fraca? Até que ponto eu cheguei e até que ponto consigo chegar? Claro, a virose viria de qualquer jeito, mas, se eu fosse mais forte, ou, se eu estivesse mais forte, ela chegaria à esse ponto? Olhei as pessoas ao redor. Todos com cara de enterro. Muitos usando a máscara contra a tal gripe e eu ali suando em bicas. A impressão é que eu soltava, a cada gota, um cansaço, um suspiro, um alívio. Os dias, realmente não estão fáceis. Pensei.


(continua ...)