voltávamos do cinema, entrando na avenida heitor penteado, passando ao lado do metrô vila madalena quando ela disse: estou com dores. e então eu disse, com todo meu mal humor domingueiro e cansado: ah mãe, não começa. ela então deu de ombros e continuou: estou com dores de parto. e então observei pelo espelho retrovisor que ela dizia e soltava junto um sorriso maternal que há muito tempo eu não via.
no mesmo instante o faról fechou. meu pai também soltou um riso agradável e o olhar dos dois se cruzou por dois segundos. foi quando eu percebi aonde eles queriam chegar com aquilo. ahá! entendi mãe! conta mais, conta mais. começou assim? às 20h do dia anterior? eram mesmo oito da noite? e então ela começou a contar, com todos os detalhes como que eu nasci, há exatos 30 anos atrás.
- foi sim filha. senti dores, fui dormir, mas lá pelas 2 da manhã acordei encharcada. era a bolsa que havia se rompido. fui até o banheiro, voltei e comentei com seu pai.
- e aí?
- aí sua avó escutou a movimentação e veio falar comigo. disse para eu preparar tudo e ir para a maternidade, então fomos
- e o Gordo (meu irmão)?
- o gordo ficou com ela dormindo, no dia seguinte ela o levou para a escola
- e aí?
- e aí, bem chegamos no hospital. vomitei muito, logo pela manhã suas tias chegaram e sua vó Olinda (paterna) chegou também. eu não parava de vomitar. sua avó parecia fazer um buraco no corredor. andava de um lado para o outro impaciente porque ninguém vinha me atender.
- que horas isso?
- já eram quase 11h da manhã. uma sexta-feira...sem médico de plantão..
- eu nasci numa sexta-feira? uhulll!
- nasceu. você e seu irmão. bom, depois deu tudo certo. apesar do enjôo, lembro que o anestesista era chileno e me perguntou várias coisas em espanhol
- e você disse que estava morriendo y que se quedava muy mala?
- nem sei Rachel. sei que você veio, toda saudável. era quase meio dia. nasceu cabeluda, chorando muito e depois ficou toda confortável.
mudamos de assunto. rimos e comentamos de qualquer outro detalhe da festa que será feita para a família, meu pai reclamou de alguma obra da consolação, entramos no meu bairro e eles me deixaram. então subi, entrei no 42 e pensei que daqui a 30 anos quero ter a mesma lembrança do nascimento do meu filho ou de qualquer outro bom momento que a vida me dê.
que venha os 30, que venha a melhor idade.
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