26.12.16

Sobre o dom de transformar

Era difícil reunir a turma toda, mas tentávamos. Uma vez por ano, geralmente antes do Natal nos reuníamos na casa da Paulinha para trocar presentes, jogar conversa fora, desabafar as dificuldades daquele ano e, claro, comermos algum prato delicioso preparado pela dona Terezinha, mãe da Paula.

Das poucas vezes que fui em sua casa era recebida com um abraço apertado, um sorriso tímido que depois de algumas cervejinhas se transformava em gargalhadas. E essa sempre foi e sempre será a melhor recordação que terei da dona Terezinha: como ela transformava os momentos difíceis em histórias para contar, em aprendizados. 

Daí ontem, no dia de Natal, ela conseguiu unir quase todos nós mais uma vez. Ainda na véspera Paulinha nos avisou que ela havia falecido e rapidamente mobilizamos famílias, carros, telefonemas e caronas para estarmos com ela ao menos uma última vez. 

O sol de dezembro estava começando a surgir quando pegamos a estrada. Ao chegarmos em Aparecida conseguimos vê-la com o terço nas mãos, com os amigos ao redor e com a sensação de estarmos rodeados de anjos. 

A partida nunca é fácil, pois geralmente não estamos acostumados a lidar com despedidas. Esquecemos que a morte faz parte da vida e pensamos que é o fim de um ciclo. Mas não é, pois guardamos para sempre as boas recordações vividas com aquela pessoa. 

No entanto meu Natal não tinha acabado ali. Respirei fundo e na volta da viagem ainda tive que me despedir de outro ser incrível que tive a honra de conviver. O ariano mais valente, corajoso, bravo e guerreiro que conheci.

A companhia do Bernardo era deliciosa, pois ele não era apenas filho dos meus amigos, mas também era meu amigo e de todos. Se desenvolvia no tempo dele, demonstrava coragem e uma vontade de viver típica das pessoas do mesmo signo que o meu. Mesmo nos seus piores momentos achava um jeito de demonstrar que estava tudo bem. Não era raro ouvir do seu pai: ele está melhorando, até sorriu.

E assim como a dona Terezinha, meu amigo Be não apenas ria, ele gargalhava. Tinha uma certa luz que o fez passar para o outro lado no dia de Natal, com a mesma missão de reunir todos os amigos novamente. Com a missão de nos mostrar que é importante sim continuarmos juntos, sermos mais tolerantes, menos egoístas e sobretudo, fortes. 

Obrigada.

11.8.16

Grazie

"Não quero morrer sem cicatrizes, por isso me bate, senão perco a coragem"

Recebi essa frase há alguns dias de um amigo meu. Na versão entregue, a mensagem estava em italiano, mas a tradução nua e crua veio à calhar no momento presente - no qual estou tentando digerir o golpe violento que meu corpo e minha alma receberam.

Ninguém pede para ter cicatrizes. No entanto, especificamente neste ano, estou com duas bem evidentes que ficarão para sempre em mim. E não sei se foi consequência delas, mas nunca, em 34 anos de vida, refleti e repensei tanto meus valores, meus sonhos e principalmente o tempo e o instante presente.

Quando reli a frase hoje cedo, compreendi melhor seu significado. As cicatrizes de fato trouxeram à tona minha fragilidade. Aquela que todos nós temos mas que demoramos a tomar consciência e senti-la. Porque sim, é necessário que ela apareça para também conseguirmos enxergar (e sobretudo acreditar) na nossa coragem. 

31.5.16

Live what you love

Já faz tempo que melhorei. O aperto no peito passou. O susto, a angústia, o medo. Agora, como tudo na vida é 'bola para frente', é seguir adiante. É aprender alguns limites e não procurar culpa, nem avaliar muito.

Foram (e continuam sendo) tantas mensagens, carinho, visitas e abraços que nada vai me impedir de lutar. De sair, sorrir, viver e amar. Amigos que reapareceram, colegas que vão se tornando mais amigos e ainda os amigos irmãos que parece que respiram o mesmo ar que eu, de tanto que os sinto dentro de mim.

E é uma delícia essa energia boa. Por isso, por tudo que está acontecendo e pelo brilho na voz rouca que vibra a cada preocupação eu precisava vir aqui e registrar meu agradecimento. Mesmo que ninguém leia esse espaço, que fica aí solto nessa rede de mil possibilidades e histórias. Vocês fazem meu mundo valer a pena. Viver de fato cada momento. Viver o que amo. E uma das coisas que mais amo, é a amizade. OBRIGADA!

16.2.16

O medo do medo

Descobri no sábado de carnaval. De manhã. Sozinha. Abri o pequeno envelope e senti minhas mãos tremerem. Em seguida, abri o outro. Imagens que mostravam algo que eu não conseguia entender. Senti meu rosto quente e logo vieram as lágrimas.

Não é nada. Vai ser simples. Todos tiram de letra. Talvez seja um pouco incômodo. Vai dar tudo certo. São frases que tenho escutado há duas semanas. Frases que me confortam, que me fazem tocar o dia e pensar na parte prática.

Mas daí chega a noite. Daí chegam os sonhos e junto, alguns pesadelos. Daí vem o medo de perder minha voz. Vem o medo dele se espalhar (mesmo sabendo que não se espalha). Vem o medo do medo. E junto sinto uma solidão e um vazio interno que nunca senti na vida. Como se os minutos fossem os últimos. Como se a última hora fosse agora.

E eu sei que vai dar certo. E eu sei que não é nada. Mas sinto minha alma pequena e valente toda abatida. Como se estivesse sido pisoteada. Como se fosse um castigo. E passo vários momentos do dia tentando entender o porquê. É uma sensação inexplicável, que me faz chorar. É uma tristeza estranha que não queria sentir. É uma das piores sensações do mundo.