Foi na volta do trabalho. Senti uma dorzinha no peito, dei aquele suspiro profundo e seco quando senti a lágrima escorrer e esquentar meu rosto. O olhar parado junto com o frio que entrava na janela me fazia lembrar você. Por tudo que passamos em tão pouco tempo e por toda alegria vivida entre dedos cruzados, caronas, beijos e risadas.
Lembrei das primeiras palavras trocadas, dos primeiros chopes, da porção de provolone fria, de outras porções que fomos experimentando aos poucos, em doses leves de suspiros, amizade e carinho. Lembrei de que quando os faróis passavam na rua e batiam nos seus olhos eu ficava com a impressão de que eles eram mais claros, e isso me encantava. Lembrei das curvas perigosas na rua e de como você gostava das minhas. De quantas vezes brindavámos os encontros e você dizia que não era para brindar com refri, mas nós já brindamos com milkshake. Ah é, então pode. Lembrei das coincidências com os nomes e da mesma letra dos nossos.
O calor das lágrimas se cruzava com um misto de saudade e tristeza. Enquanto o ônibus andava eu continuava lembrando do calor do abraço, de sentir seus olhos piscando em cima de mim, como se fosse o dedo de uma criança chamando minha atenção. E então voltei a lembrar de pequenos detalhes, de coisas que foram crescendo e que de alguma forma, já eram nossas. Dos cheiros, do modo que me ninhava, dos olhares que travavam sua boca e nos faziam pensar num futuro próximo.
E quanto aos passos? Eram tão divididos e leves que seguiam um atrás do outro, dia após dia. Sem muita pressa, sem sabermos direito o tamanho e a intensidade, mas estavam ali . Eu me sentia solta de alguns medos e você, cada vez que me abraçava pra perto, estava longe de algumas aflições. Mas por fim, de tudo que lembrei, veio o mais gostoso: que você dizia gostar da minha gargalhada e eu gostava do seu sorriso.