Ontem seria mais uma noite comum. Sair do trabalho às 18h, pegar o ônibus cheio, apertado e claustrofóbico. Chegaria em casa, comeria algo com minha mãe, banho, jornal e cama. Se não fosse pelo convite de uma amiga minha para irmos ao show de outra amiga. Show de MPB numa casa de jazz lá no Itaim. Ai, mas logo na terça-feira ? Com essa chuva? Hum ... será?
Lá fomos nós. A amiga do show ia na verdade recitar algumas poesias de um dos maiores mestres do Brasil, o amado e queridíssimo, Vinícius de Morais. Faria isso em parceria com uma amiga que cantaria algumas canções da deliciosa e incomparável dupla: Toquinho e Vinicíus. Junto delas, mais dois músicos - violão e percurssão - ajudariam a compor a noite. Fomos.
Chegamos na garoa, faltando uma hora para o começo do show.
A casa é realmente aconchegante, intimista, boa para namorados, duplas de casais e grupos de amigos
(grupo pequeno, por favor). Diversos quadros estavam dispostos nas paredes. Bochechas apertadas, olhos fechados. Trombones, clarinetes, saxofones, cornetas variadas e muitas caras conhecidas figuravam as imagens que eu apreciava embasbacada.
Será que vou aprender a gostar de jazz de verdade? Pensava. No andar de cima, uma pequena loja de cd´s, lp´s antigos e claro, mais quadros engraçados e coloridos. Sentamos.
Claro, que ficamos próximas à mesa das meninas-cantoras-perfeitas. A passagem de som para mim já estava valendo a noite. O cansaço consumia meus olhos e minhas pernas até elas defnitivamente começaram as canções. E foi-se.
O pequeno grupo à minha frente soltou em poucas horas, as mais lindas letras, poesias e tudo que há de belo dentro da bossa nova de primeira qualidade. Observava cada gesto, cada corda vibrando, cada riso e a platéia fina e feliz. Dava gosto de ver o pessoal ali orgulhoso de termos tido um poetinha com tamanho coração, expressão e sábias palavras. Eu transbordava amor.
A noite se seguiu com duas cervejas, uma caipirinha e a amiga que havia me convidado rachando o táxi comigo na volta para casa. Arrumei a cama para ela, me troquei e liguei o alarme. Sabia que dali três horas eu deveria acordar. Sabia que o dia de hoje demoraria a passar (e como!) Mas sabia também que, de alguma forma, estava indo dormir mais leve, mais feliz e apaixonada. Adorei.