16.7.08

choque

Subia a rua no meu ritmo, a passos curtos, rápidos, respiração concentrada e sem pensar muito no meu cansaço. O suor escorria pelas costas e sentia as mãos geladas. Mas até aí, tudo normal, como todos os dias. Algumas vitrines chamavam minha atenção, cruzava com pessoas na estreita calçada e tudo seguia bem. Até que, de repente, a senhora que estava subindo à minha frente caiu no chão.

Não. O tombo não foi apenas porque ela tropeçou ou escorregou. Nem foi também porque ela estava breaca ou qualquer coisa do tipo. Ela caiu com tudo. Como uma fruta madura. Como um livro pesado que salta da estante ao chão. Um tombo daqueles. Caiu para trás. Se afirmou no degrau da loja de roupas e me deixou perplexa.

Aparentava ter seus 50 e poucos anos, quase 60. Baixa, cabelos claros, sacolas nas mãos. Casada e mãe. Senti um frio na espinha e uma imensa vontade de chorar (podia ter sido a minha mãe). No mesmo instante afastei esses pensamentos tolos e ajudei a levantá-la segurando suas mãos com o mesma atitude de um outro rapaz e de uma das vendedoras da loja. Assim que ela levantou e me olhou a imagem não saiu mais da minha cabeça.

Babando. Ela estava babando, levantando a mão à boca como se fosse vomitar. Mas não. A dor no coração era demais. Uma mão para se equilibrar e a outra apertava o peito como se quisesse tirar o coração para fora. Havia sido um quase derrame? Um quase infarto? Não sei bem. Sentamos a senhora num banquinho, pedi para a vendedora trazer um copo de água e perguntamos se ela queria que chamasse uma ambulância. Não, não precisa. A voz confusa e tímida se misturou com meu olhar parado para a mão ainda no peito dolorido.

Subi a rua quieta e segurando as lágrimas. Fiquei pensando como eu era estúpida de ter deixado ela ali na loja e nem ter ído até uma farmácia pedir socorro à algum farmacêutico de plantão. Ou ao menos ter ficado ali ao lado, até ela retomar o folêgo e voltar à si. E todos esse pensamento duraram até chegar em casa.

Não mesmo. Depois de ontem eu tive a certeza que eu não serviria para ser médica nem enfermeira. (Fiquei até pensando se eu sirvo para alguma coisa. O velho dilema desta profissão)

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