23.7.08

welcome back

para Celie

Não me recordo perfeitamente, mas sei que chorei. Ele veio para cá em 1991 depois que minha avó faleceu. Não tinha nem dois anos que ele havia ído e quando voltou parecia um homem. Lembro que a chácara ainda existia. Ele visitou meu avô, mostrei que já sabia andar de bicicleta sem rodinhas, corremos pelo bosque e fiquei observando ele cochichar com meu irmão algumas coisas sem entender se ele estava doente ou se aquela voz rouca era normal.

Um dia, antes da volta eu virei para ele, como quem conta qualquer assunto, e disse: você sabe que a vovó morreu né? Ele me mandou ficar quieta e fez que sim com a cabeça. Sempre discreto, sempre me ensinando a não falar nada na hora errada. Silenciei. Entendi que ele sabia e que também não entendia como tudo tinha mudado do dia para a noite.

Daí veio a despedida triste no aeroporto. Apesar dos nove anos de idade, eu sabia que não o veria tão cedo novamente. No vão da porta de vidro ele nos passou uma foto 3x4 dele ainda menino. Pegamos com os olhos cheios de lágrimas e ele disse: não assistam Chaves. Vocês vão ficar burros. Conselho de primo mais velho. Seguimos.

Depois, veio os anos. Muitos e muitos anos disantes. Sem muitos e-mails, telefonemas e contatos. É, eles são difíceis de manter essa coisa brasileira e calorosa. A neve encoberta muita coisa. Mas não sabemos como lidar com isso. Aqui não neva né?

Daí veio o casamento, as passagens, as malas prontas o entusiasmo, os sorrisos, reencontros e as histórias e lembranças divididas. Aiii como foi bom aquele mês de julho! Lugares visitados, conversas com a tia preferida, segredos revelados, tantas e tantas histórias. E agora, ele vem de volta: 18 anos depois.

É muita coisa. É um laço muito grande e forte dentro de mim. É aquela coisa de caçula do trio. Da única menina que aprendeu coisas de meninos. É a vontade de casa cheia, de mais um irmão. É a vontade de ouvir uma outra opinião. O voto minerva. Os três patetas. Os três porquinhos. E como se diz mesmo isso? Saudade. Mais uma coisa que só existe aqui.

3 comentários:

Marcelo disse...

Só dois detalhes: ele veio em 90 e as fotos nós trocamos quando ele foi embora, da primeira vez. E nós choramos foda!
Além disso: eu já vi ele!!!!

Anônimo disse...

Voces tem a capacidade de me fazer chorar com solucos e tudo. Minha querida, minha fofa, que saudade...
O calor aqui e imenso mas sinto uma mao gelada apertando meu coracao e todas minhas emocoes se enregelam. Nossas escolhas e os caminhos a que elas nos levam, e as consequencias... No meu dia-a-dia preciso acreditar que as escolhas que fiz foram as melhores em cada ocasiao, ou viveria em profunda depressao e ressentimentos. No entanto, e dificial de aceitar que por razoes desconhecidas, nossa habilidade de lidar com a vida na maioria das vezes nao esta ainda madura para ver todas as opcoes a nossa frente, e quando fazemos as tais decisoes nao usamos o maximo possivel de nosso potencial racional mas acabamos indo pelo coracao. Voce antes falou de voltar aos 20... Ah, se eu pudesse voltar aos 25! Me pergunto se a sobriedade e seriedade do Mau deve-se a instabilidade de nossas vidas... Quantas perguntas tenho; quantas respostas tambem, mas nao reciprocas. Sabia que chorar de saudade doi dentro do peito? Nao e como chorar por traicao, dor fisica ou desconsolo. E uma dor mais permanente, mais sutil, mais vagabunda. Mundana mesmo, mas sem fim. De tudo que nos causa dor, a saudade e a unica que nao tem remedio. Muitos beijos, Celie

moça dos olhos d'água disse...

l-i-n-d-o.


(beijos com lágrimas nos olhos..)