31.7.08

tristeza ?

Dias atrás eu gravei 5 músicas no meu novo I-Pod (lindão por sinal). No meio delas, há uma versão de Tristeza. Na realidade, é uma versão bem curta, de apenas 4:04. No início da música Toquinho comenta que quer dedicar essa música ao Haroldo, companheiro de infância de Vinícius.

E comecei a perceber que vou e volto com os dedos para as outras músicas mas essa, é, de fato, a música do meu momento atual. Não pelo nome, não também pelo sentimento que leva o nome. Mas apenas ouvir o dedilhar do Toquinho nas cordas enche meu coração de paz, de satisfação e de uma leve nostalgia (essa que ficou ao redor da minha casa nos últimos dias).

Lá ra rara,
Lá ra rarala ra rara, rara
Quero de novo cantar

Quero de novo, quero mais e quero por muitos anos continuar me recordando que ele esteve por aqui enchendo essa casa de graça, os dias de cores e as conversas de risadas. Quero, nunca mais me esquecer que seu sorriso é doce, suas palavras são sábias e que, é muito bom ter um músico na família. O qual eu amo e que ama Bossa Nova.

28.7.08

ontem

ontem foi aniversário da minha mãe e só queria deixar registrado aqui, nesse meu cantinho, que foi uma noite inesquecível.

minha madrinha deslizou as mãos no teclado como só ela sabe fazer. a tia dela, madrinha da minha mãe, cantou docemente, como só ela sabe fazer e o filho da madrinha da minha mãe, primo da minha madrinha, dedilhava canções no violão antigo, como só ele sabe fazer.

e nós rimos, cantamos todos juntos. as mais belas canções que esse país tem. minha mãe estava de saia rodada, dançando no meio da sala. meu pai ficou gargalhando com meus tios distantes e tão próximos. meu namorado grudou do meu lado cruzando as mãos nas músicas do toquinho.

e a noite acabou com a sala enorme vazia, muitos copos na cozinha e o coração aberto para esses bons ares que vão e voltam na minha vida.

27.7.08

Pearls

Observações que meu primo me falou esses dias em sua volta ao Brasil (após quase 20 anos):


1. falamos tudo no diminutivo:


"Vamos tomar um sorvetinho"
"... tem que passar no caixa e pegar a fichinha"
"vamos num barzinho"
"é a penas um presentinho"
"é fofinho"


2. os motoboys continuam sendo assustadores


3. ele ainda lembra expressões bobas mas engraçadas


"tá com frio? bate a bunda no rio"
" tá com fome? mata um homem e come"


4. as pessoas fumam menos que em 1990


5. os carros são bonitos


6. ele odiou funk, pancadão e axé (yesss!)


7. os prédios do centro são lindos, mas o que estraga é a poluição que deixa eles pretos


8. não há razão para tomarmos Starbucks sendo que o Brasil tem o melhor café do mundo (há, essa é muito boa. Concordo)



9. mas, de modo geral, nada mudou muuuito.


Dependendo do ponto de vista, não mesmo !

23.7.08

welcome back

para Celie

Não me recordo perfeitamente, mas sei que chorei. Ele veio para cá em 1991 depois que minha avó faleceu. Não tinha nem dois anos que ele havia ído e quando voltou parecia um homem. Lembro que a chácara ainda existia. Ele visitou meu avô, mostrei que já sabia andar de bicicleta sem rodinhas, corremos pelo bosque e fiquei observando ele cochichar com meu irmão algumas coisas sem entender se ele estava doente ou se aquela voz rouca era normal.

Um dia, antes da volta eu virei para ele, como quem conta qualquer assunto, e disse: você sabe que a vovó morreu né? Ele me mandou ficar quieta e fez que sim com a cabeça. Sempre discreto, sempre me ensinando a não falar nada na hora errada. Silenciei. Entendi que ele sabia e que também não entendia como tudo tinha mudado do dia para a noite.

Daí veio a despedida triste no aeroporto. Apesar dos nove anos de idade, eu sabia que não o veria tão cedo novamente. No vão da porta de vidro ele nos passou uma foto 3x4 dele ainda menino. Pegamos com os olhos cheios de lágrimas e ele disse: não assistam Chaves. Vocês vão ficar burros. Conselho de primo mais velho. Seguimos.

Depois, veio os anos. Muitos e muitos anos disantes. Sem muitos e-mails, telefonemas e contatos. É, eles são difíceis de manter essa coisa brasileira e calorosa. A neve encoberta muita coisa. Mas não sabemos como lidar com isso. Aqui não neva né?

Daí veio o casamento, as passagens, as malas prontas o entusiasmo, os sorrisos, reencontros e as histórias e lembranças divididas. Aiii como foi bom aquele mês de julho! Lugares visitados, conversas com a tia preferida, segredos revelados, tantas e tantas histórias. E agora, ele vem de volta: 18 anos depois.

É muita coisa. É um laço muito grande e forte dentro de mim. É aquela coisa de caçula do trio. Da única menina que aprendeu coisas de meninos. É a vontade de casa cheia, de mais um irmão. É a vontade de ouvir uma outra opinião. O voto minerva. Os três patetas. Os três porquinhos. E como se diz mesmo isso? Saudade. Mais uma coisa que só existe aqui.

18.7.08

...!

meus ombros estão pesando umas 100 toneladas cada um.


minha cabeça explode e minhas unhas estão descascadas.


não vejo mais minha melhor amiga e falo com minha mãe por e-mail.


os desejos sumiram da minha pele e do meu olhar.


já não estou mais pesando 54kg e preciso de mais post-its.


recebi a senha do alarme para quando eu sair tarde.


não consigo parar de pensar e minhas vitaminas terminaram.


penso seriamente em viver de aluguel e deixar a casa para 2012.


eu, realmente, gostaria muito de voltar aos meus 20 anos.

16.7.08

choque

Subia a rua no meu ritmo, a passos curtos, rápidos, respiração concentrada e sem pensar muito no meu cansaço. O suor escorria pelas costas e sentia as mãos geladas. Mas até aí, tudo normal, como todos os dias. Algumas vitrines chamavam minha atenção, cruzava com pessoas na estreita calçada e tudo seguia bem. Até que, de repente, a senhora que estava subindo à minha frente caiu no chão.

Não. O tombo não foi apenas porque ela tropeçou ou escorregou. Nem foi também porque ela estava breaca ou qualquer coisa do tipo. Ela caiu com tudo. Como uma fruta madura. Como um livro pesado que salta da estante ao chão. Um tombo daqueles. Caiu para trás. Se afirmou no degrau da loja de roupas e me deixou perplexa.

Aparentava ter seus 50 e poucos anos, quase 60. Baixa, cabelos claros, sacolas nas mãos. Casada e mãe. Senti um frio na espinha e uma imensa vontade de chorar (podia ter sido a minha mãe). No mesmo instante afastei esses pensamentos tolos e ajudei a levantá-la segurando suas mãos com o mesma atitude de um outro rapaz e de uma das vendedoras da loja. Assim que ela levantou e me olhou a imagem não saiu mais da minha cabeça.

Babando. Ela estava babando, levantando a mão à boca como se fosse vomitar. Mas não. A dor no coração era demais. Uma mão para se equilibrar e a outra apertava o peito como se quisesse tirar o coração para fora. Havia sido um quase derrame? Um quase infarto? Não sei bem. Sentamos a senhora num banquinho, pedi para a vendedora trazer um copo de água e perguntamos se ela queria que chamasse uma ambulância. Não, não precisa. A voz confusa e tímida se misturou com meu olhar parado para a mão ainda no peito dolorido.

Subi a rua quieta e segurando as lágrimas. Fiquei pensando como eu era estúpida de ter deixado ela ali na loja e nem ter ído até uma farmácia pedir socorro à algum farmacêutico de plantão. Ou ao menos ter ficado ali ao lado, até ela retomar o folêgo e voltar à si. E todos esse pensamento duraram até chegar em casa.

Não mesmo. Depois de ontem eu tive a certeza que eu não serviria para ser médica nem enfermeira. (Fiquei até pensando se eu sirvo para alguma coisa. O velho dilema desta profissão)

14.7.08

... e a noite é tão boa !

A vontade era tanta que ao invés de uma, fomos duas vezes. Acordei umas 14h, completamente perdida e com dor no corpo de tanto dormir. O telefone tocava e corri para atender achando que seria ele me acordando de longe. Era. Aiiii que sono gostoso e que preguiça. Mas o sol lá fora me impulsionava para sair logo de casa.

Enquanto tomava banho e esperava ele chegar fiquei pensando há quantos anos eu não ia naquela igreja tão linda, enorme e cheia de vida. Desde meus 9 anos que eu não entrava no pátio externo, pela rua de trás, perto do gramado e do jardim. Desde aquela época minha fé toda ficou parada depois que todos os meus avós se foram e que não haviam mais missas de 7º dia e de um ano de falecimento. Nada mais me motivava a ir à igreja, sentir o cheirinho das velas e ficar ali quieta ouvindo rezas em silêncio.

Troquei de blusa três vezes, de sapato duas, sequei os cabelos e fomos para lá animados. As ruas estavam tão tranquilas que a a vontade que eu tinha era voltar para casa e pegar meus chinelos. Ou pegar um travesseiro e deitar na calçada. É, bem coisa de interior mesmo. Uma tranquilidade plena. Descemos até a igreja conversando sobre a vida mansa e chegamos na quermesse.

Por ser o último final de semana da festa julina eu tinha certeza que a quadra, os gramados e as barracas estariam lotadas. Minha testa começava a franzir pensando no meu mal humor com a multidão quando passamos pelo portão florido e avistei um casal entrando na cozinha e dando oi para as cozinheiras. Mudei de expressão e sorri.

O almoço rendeu dois vinhos quentes, um espetinho, um cachorro quente e dois refrigerantes. Avistei alguns conhecidos da época da catequese. O clima era mesmo de paz, irmãos, família, Deus e tudo isso junto. Fiquei bem, me senti leve e amada. Comemos aos montes e rimos por alguns minutos ao observar as crianças correndo enlouquecidamente brincando de pega pega.

Após o jogo do verdão (claro) voltamos para a festa com mais dois amigos. A noite caía devagar, estrelas no céu, friozinho, correio-elegante, mais comidas, sorteios, microfone aos berros, prêmios para os participantes, término das prendas, varinhas de pescar, correrias e o delicioso cheiro de quentão. Não tinha fogueira, não teve quadrilha, não teve pinhão. Mas teve aquela sensação boa de amor de inverno, de frio nas mãos e abraços quentes.

Eu precisava ir à uma festa junina.

10.7.08

régua e compasso

Conversa na cozinha sobre a vinda do primo-sobrinho-afilhado querido:


- Será que ele ainda lembra de algumas palavras em português? Perguntou minha mãe mexendo a panela de macarrão.


- Claro né? Você não vai querer falar com ele sobre trigonometria, mas sobre outro assunto, claro que ele vai entender ! Responde meu pai apertando o limão da capirinha.

8.7.08

news

São tantas coisas que nem sei por onde começar. Tudo anda bem (essa é para quem sente minha falta). Eu acordo mais cedo que o normal, me arrumo, pego ônibus diferente, desco em um ponto diferente e cruzo uma praça diferente. Chego no prédio diferente, entro na sala (ainda) diferente e o dia se passa com pessoas completamente diferentes. Os restaurantes também não são os mesmos. As ruas e as lojas também.

Eu sei que depois de um tempo tudo isso vai virar rotina. Vou começar a reclamar de novo e me irritar com certas coisas. Sei que daqui uns meses o que era velho voltará a ser novidade. Mas por enquanto, tá bom desse jeito. Aqui dentro são mil pensamentos borbulhando. Subindo e descendo sem parar. Planos, estratégias e a ansiedade que transborda. Estou adorando tudo.

E pessoalmente falando, o coração vai leve e tenta se acostumar com a terrível distância de horas e dias sem ele. É sempre assim. Sempre foi. Depois também vira um grude só. O sofá fica enorme com os corpos encolhidos (ops. cuidado com a tatuagem). Os sonhos divididos tomam forma, os planos vão sendo concretizados e a grana guardada. Fora isso, o mesmo brilho.

Além disso tudo, tem a espera ansiosa do primo. Que vem dia 9, vem dia 12. Não, vem dia 23. Programas, passeios, visitas, baladas, tudo para ele. Sofá cama comprado, lençol engomado, até biscoito de polvilho está separado.

Eu adoro viver os dias pensando nessas pequenas coisas prazerosas. É delicioso.

2.7.08

diálogo

- Ando feliz. Eu sei que não parece. Mas estou.
- Que bom, isso faz bem. Também estou feliz com suas decisões.
- Mas também estou cansado. Mudar a rotina e quebrar alguns hábitos não é muito minha praia.
- Eu sei, também não é a minha, mas a gente se acostuma. É assim com todo mundo.
- É, as coisas estão caminhando. Vai ficando aos poucos com a minha cara.


- O quê fica com a sua cara?
- Aqui ué, a sala, esse lugar.
- Ah sim.
- Um gato.
- Um gato?
- É, pensei até em termos um gatinho por aqui. Seria uma boa. Aqui é tão tranquilo, tão limpinho, tão aconhegante.
- Hum ... Será que ele iria trazer mais paz? Boas energias? Vou precisar disso.
- Eu sei lá. Que viagem!


- E os seus sonhos continuam?
- Sim, a força do amor me motiva
- Que bom! Senão eu estaria ferrado
- É, a meta agora é a pós-graduação.
- Para os dois? Poxa, que idéia ! Vou ter que pensar bem nisso ...
- Vai. Mas não tire daí aquela idéia da casa.
- Ok. Deixa comigo. As coisas andam iguais?
- Sim, todas as vontades permanecem.
- Vai com calma ! ..
- Ah ! Vai pastar !


(conversa entre o que bate aqui embaixo e o pensante lá de cima)

1.7.08

uma de cada vez

A gangorra da vida.
O sobe e desce.
A avenida Paulista àcima
A 9 de julho ao lado.


A sala vazia.
A mente cheia.
Todas as vontades.
Dores e timidez.


O abraço mais apertado
As poucas que caíram
Quem sabe quando?


Que saudades das manhãs