28.2.08

nariz vermelho

Quando eu era menor, meu irmão e meu primo infernizavam minha vida me chamando de "manteiga derretida" toda vez que eu chorava. E isso só piorava a situação, porque na minha cabeça eu pensava que era uma suuuuper xingamento. E claro, chorava mais.

Parecia uma torneira vazando. Chorava o tempo todo e vivia com o nariz vermelho de tanto chorar. Até que fui crescendo e descobri que não era necessário chorar por tudo. Dava pra respirar, pensar, ter paciência e tudo ia se resolver. O choro só aparecia quando era realmente necessário soltá-lo.

Eu sentia crescer uma dorzinha quente, a garganta seca e o nó enorme se formando no peito. Meu nariz empre foi o primeiro a apontar que alguma coisa está errada. Sempre. Vai ficando vermelho, faz meu rosto todo se corar e pronto: as lágrimas já estão no queixo.

Chorei no desenho do Snoopy, chorei nos filmes mais idiotas, chorei quando meus 4 avós se foram, chorei quando terminei e fui terminada amorosamente, chorei e choro de alegria e de tristeza. Mas entre todos os choros que tenho na vida o pior é o de indignação. E isso aconteceu numa dessas noites recentes.

Voltava para casa de carro, fazendo a manobra para entrar na garagem do meu prédio numa rua muito íngrime bem próxima à entrada do prédio. Foi quando vi um caminhão de lixo fazendo manobra na minha frente. Eram 21h50. O lixeiro pede para eu parar e esperar o colega dele fazer a manobra. Parei na descida. O carro de trás também parou. Ficamos ali por alguns segundos enquanto o caminhão manobrava e ele tirava as luvas, o boné e auxiliava o colega passando as instruções pelo espelho, de pé ali na rua. Ele tinha um rosto suado, sujo, um olhar simples e tranquilo. Sentia até que ele sorria pela atitude que tínhamos de ficar ali esperando a manobra ser feita.

Mas, eis que vem um carro pela esquerda, corta todos nós que estávamos ali parados e desce a rua correndo. Não houve acidente, não houve batida, nem nada. Mas enxerguei no rosto daquele homem um olhar de tristeza e completa indignação. Custava esperar? Pensei. O caminhão se foi, nós descemos e eu entrei na garagem à esquerda. Até chegar na vaga e subir o elevador fiquei pensando na cena que eu tinha visto. Lágrimas caíram e ao chegar em casa falei com minha mãe sobre isso tudo. Porra, custava esperar?

Eu sempre me coloco na situação dos outros para minimzar os problemas .. sempre penso que talvez ele tenha nos passado pela esquerda porque estava com alguma urgência também. Porque queria auxiliar alguém que estava passando mal, poorque tinha uma grávida dentro do carro, eu sei lá. Mas, sinceramente, não consegui pensar nisso naquela noite. Pensei bem e pensei seriamente: precisava mesmo cortar pela esquerda?

Às vezes acho que sou muito sensível. Mas enfim, ainda bem que tenho esse pulsar dentro de mim. Acho que falta um pouco disso nas pessoas. Acho não, tenho certeza.

2 comentários:

Unknown disse...

Chel, querer trabalher mesmo em assessoria eu não quero. Mas estou aceitando qualquer emprego e considerando todas as possibilidades. Não aguento mais ficar ociosa e longe da minha profissãozinha querida.
Que bom que sua amiga gostou do meu blog. Avise-a que me visite sempre.
Beijos

moça dos olhos d'água disse...

ai, Chel, é triste mesmo... mas, tente pensar que ao menos vocês pararam - e que, pra cada ação nessa vida, há uma reação. é lógica. um dia, o apressado vai ter de volta, com juros, o troco pela pressa. pode apostar. beijo!