4.9.08

quanto ficou?

Uma vez eu li isso, não me lembro aonde: gentileza gera gentileza. Prá ser bem sincera, não sabia da capacidade que eu tinha em afastar com as mãos um pouco o mal humor que estava sob meus ombros e começar a pensar mais leve. Mas faz alguns dias que eu tenho notado estar diferente.

Aquela coisa de andar séria, com a testa franzida, olhar parado e mil pensamentos na cabeça, mudou. Notei isto com as conversas que tenho tido com pessoas que nunca vi na vida e que talvez, provavelmente, eu nunca mais as encontre. Por exemplo, com taxistas.

Quando estive em Brasília, na semana passada, fui o caminho todo até o aeroporto conversando com o motorista. O calor eu nem senti. A fome passou. E até o trajeto cheio de voltas e enjôo foi tranqüilo. Conversamos sobre as cidades que nos separam. Sobre as mudanças urbanas e sobre a natureza. O tempo todo ele soltava largas gargalhadas e eu também.

Assim, quando cheguei no meu destino e já estava fechando a porta ouvi: você é uma ótima companhia. Gostei de levar você até aqui. Não era pelo dinheiro. Não era pelo trabalho. Eu consegui enxergar o brilho sincero naqueles olhos cansados.

Daí ontem, evento o dia todo. Mal entro no táxi ele pergunta meu nome. Dá um longo suspiro e diz: nunca vou esquecer seu nome, minha primeira filha também se chamava Rachel. Morreu com 4 aninhos. Ui. Olhei para o lado. Ele também. Disfarçamos com uma tosse e emendamos o assunto naturalmente sobre vida, morte, faculdade, escolhas, caminhos e trânsito. Não parava de olhar na tatuagem em formato de coração feita no antebraço. A pele vermelha e os riscos já cinzas demostravam toda a compaixão daquele senhor.

Na volta, mais um. Desta vez, vermelha estava eu. Com sol de 32º C na cabeça o dia todo, ele abriu as janelas e sentimos a brisa entrar. As conversas duraram lentamente, assim como o trânsito da marginal. Na chegada ao destino, ouvi a mesma frase: tudo de bom para você, foi muito bom te trazer até aqui.

O sorriso, o olhar, as falas pausadas, o desembaraço das pessoas, o aperto de mão e a gana da vida. Isto deixa meu coração gentilmente alegre. Sinceramente? Que se fodam as dívidas, medos, compromissos, correria, mal humor e falta de educação. Gentileza gera gentileza. E, no meu caso, um pouco mais que isso.

3 comentários:

Vilma Balint disse...

Que bom que ao final de um dia pesadão como o de ontem você conseguiu essa leveza...

Francisco disse...

Meu, eu adoro papo com taxistas. Sempre converso com esses motoristas. Uma vez peguei um de madrugada, a gente falou, falou falou... ele tinha sido caminhoneiro e viajado pelo Brasil inteiro. Nunca vou me esquecer de tudo o que aprendi em apenas uma corrida.

Verdade. Gentileza sempre gera gentileza. Me considero um cara gentil, até mesmo quando estou de mau-humor. Faz mó bem!

Francisco disse...
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